sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Páginas de um diário sem tabulação - Parte VIII

Durante esse tempo que fiquei aqui, trancada, posso afirmar que essa pessoa me veio á mente diversas vezes.

Sempre ouvi dizer que nada é por acaso e que nunca estamos sozinhos em batalha alguma. Confesso que muitas vezes fui descrente dessa afirmação e via uma forma de me salvar, aliás, continuo não vendo, mas tenho a certeza de que tudo o que estou passando neste tempo no hotel vai me servir para algo, só não sei quando e nem como.

Mas de que vale a vida sem a tristeza?

Volto eu para meu mundinho, altistando meus pensamentos. Tento organizá-los em fatos e buscar algum sentido da minha vida ou alguém boa experiência que tenha me marcado, mas não consigo. Tenho mágoas, tenho dores e raiva. Vontade incansável de sumir.

Queria me isolar. Aham, sei que estou isolada em um quarto, mas eu queria me isolar de mim mesma por alguns instantes e viver em paz, porém, sei que não posso e tenho que levar tudo isso junto comigo sempre, afinal, são minhas lembranças, as mesmas que um dia me feriram muito, me transformaram no que sou hoje. Talvez você esteja vendo que me transformei em um monstro, o que não deixa de ser verdade, mas sou um monstro como forma de defesa, como a Fera dos contos de fadas.

Me deixo levar pelas lágrimas ao me lembrar que, um dia, eu tive um pai. Sim, assim como eu me lembrei de tê-lo comigo vendo os barcos, me lembro também de sua mudança. Sempre esteve aqui, mas sempre de corpo presente.

Não fez constante presença na minha adolescência. Ele me abandonou há alguns anos e abriu lugar á um “pai” que eu não conhecia, um que só humilhava á mim e meus irmãos e que só brigava com minha mãe. Se fez um ser insignificante no qual eu mesma não conseguia mais respeitar, queria apenas que ele fosse embora. Não gosto nem de lembrar dessa parte, prefiro tentar deixar o seu lado bom, aquele que prevaleceu até meus 12 anos, o que ele se tornou, pra mim não passa de uma dominação mal feita.

Mãe? Sim, essa sempre se fez presente, sempre esteve do meu lado e nunca mudou, nunca me deixou só. Muitas pessoas me abandonaram nesses meus anos, mas essa foi a única que continua nessa jornada comigo. Mãe guerreira e batalhadora!

Também tenho dois irmãos e, assim como todos os irmãos, brigamos sim e muito! Nunca tivemos aquela amizade que se espera que exista, mas um sempre defendeu muito ao outro. Me entristeci muitas vezes com eles, afinal, sou ser humano, e muitas vezes chorei por ver um deles dando de cara com um muro ou algo do tipo, mas não houve momento pior do que quando me deparei com a realidade que meu irmão mais velho estava passando.

Por essas e outras pessoas, não penso em abandonar-me de novo. Choro consciente que um dia tudo mudará e poderei mostrar um sorriso verdadeiro ao invés de um que camufla minhas angústias.

Um comentário:

  1. Esse diário passa certa tristeza. A cada frase lida é possível sentir essa angústia.
    Mas não é que é ruim. É um diálogo interno muito útil. Todos necessitam disso, de um tempo pra si, para pensarem, e desabafarem.

    Interessante.

    ;)

    Beijos Michele

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