segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Páginas de um diário sem tabulação - Parte XII

"A família.
São soníferos, chagas sem curas.
(..)

Esquecem-se de si.
Pontuam-se

A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

(..)

Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.."


Transformo meu dia em um diário de folhas pautadas e sem nexo, não estou conseguindo juntar meus pensamentos o suficiente para prosseguir minha fala. Bem aqui me falta uma vírgula, uma pausa para um merecido descanso que não tenho há anos, já me recordando que o ponto final está distante. Continuo tentando descobrir o segredo da vida.

Minha voz ainda ecoa e o único sentido é o não sentir, o não pensar, o não refletir, o não existir.

Estou cansada demais para tentar novamente.

Já tentei várias vezes mudar o que tenho em volta e mudar o que sou. Já tingi o cabelo e cortei curtinho. Já fiz greve de fome e já tive compulsão. Já comi uma lata de leite condensado inteira de uma vez só depois de comer um pudim inteiro. Ansiedade, este tem sido meu sobrenome.

Por diversas vezes listei o que me impede de sorrir em determinados momentos da minha vida e foi então que me frustrei mais uma vez. Não serei a de ontem e não pensarei no que vou me transformar amanhã. O hoje me é o suficiente e perturbador o bastante para escrever um roteiro mexicano, dessa vez dizendo em dramas e exageros. Talvez seja para quem me serve de ouvinte, caso tenha alguém me ouvindo mesmo, mas sempre que está em nossa pele parece ser dez vezes maior e o fardo pesa mais.

O sino bate e as pessoas dirigem-se à capela. Em sinal de reverência abaixam suas cabeças e livram-se de seus pecados por uns instantes e ao pisar na rua, voltam à sua vida mundana. Da espera à falsidade. Do pedido à graça. Da piedade à raiva. Tudo explode, tudo sai em ligeiros compassos e se perdem no primeiro passo da porta sagrada. O exemplo de atitude se delibera e a contradição consome. Sorte de quem vive esses momentos de forma natural, real, (in)discreta. Sintaxes de agora e o que foi, do que virá e por um instante sumiu.

Percebo que em cada piscada que dou, não consigo saber se ao certo sei o que quero para o meu agora. Ontem eu era uma lunática, amanhã serei outro alguém. Agora alimento um "não sei" ou... o que era mesmo pra eu ser?

Em cima da poltrona está meu violão, o grande Justin! Companheiro inseparável que separei por um tempo. Uma forma distante, um abraço aconchegante e ao mesmo tempo o som que me afaga, melodia que me embala e momento que me adormece. Desperto no F# mais doce de uma sinfonia e me hipnotizo em suas cordas, as mesmas que vibram e me recordam o quanto é bom cantar. Aaaah, saudade de quando este ato me era um dos mais prazerosos, de que quando cantar com o coração era a forma mais próxima que eu tinha de fazer as pessoas á minha volta se envolverem e sorrirem para o resto do mundo. Hoje só me restam lembranças. Minha voz não sai com as belas composições, apenas com as que mais ferem, as mais violentas em sentidos e carentes de afeto, letras de intelectos passíveis e impiedosos.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. to te seguindo. li umas coisas suas! vc escreve mto bem! ^^

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  3. Moça você é uma pessoa muito especial com um coração que sangra. Esse mesmo coração precisa de esperança, precisa de verdade e de carinho. Você confia e se decepciona; você doa e não recebe; você só quer sentir o que todos querem: paz, amor, e segurança. Ainda é um bebê. Cresceu, sofreu, e se transformou. Tentou de tudo para evitar sofrer de novo, mas ainda sofre e continuará sofrendo, pois a única solução é você reconhecer que é uma criança assustada, reconhecer que está perdida, que está sedenta por amor, aceitação incondicional. Só Jesus tem isso para você. Só Ele conhece seu coração. Fale com ele, escreva para Ele, cante para Ele, peça ajuda para Ele, reconheça que precisa, reconheça que quer e se jogue nos braços do Senhor.
    Não continue com o coração endurecido. Seu coração é lindo, lindo mesmo. E eu sei que Deus tem tanta coisa para fazer na sua vida.
    Não olhe para as pessoas, não olhe para os cristãos, olhe para Cristo e verá que Ele é digno da sua confiança e jamais irá te decepcionar.

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  4. oi Melissa, tudo bem?

    Este post da continuação do meu diário escrevi em um momento muito tenso.
    Sou de família cristã e pertenço á este mundo tbm e posto para "O Semeador"
    Escrever é minha forma de desabafo e bem, aquele trecho sobre cristãos foi uma crítica à minha mãe(espero muito mesmo que ela leia isso!)
    Acho q se vc tem uma doutrina, deve seguí-la e usá-la em sua família quando necessário, ao invés de ver um filho se matando aos poucos, uma filha surtando de desespero de ver a família afundando e um filho que não sai do mundo virtual pq tem medo da realidade. A unica pessoa em terra q pode melhorar isso é ela, e apesar de ter recebido inúmeros sinais de Deus, cruza os braços e se recusa à fazer algo. Uma pena
    Mãe, caso leia isso, não espere que algo pior aconteça, vc sabe o que fazer e como. Não espere que meu irmão morra pra depois apenas se lamentar

    Obrigada Melissa, estou te seguindo tbm

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